quarta-feira, 9 de julho de 2014

O Dia Seguinte

Imagem extraída de https://www.facebook.com/DFBTeam


Quando a Seleção vence, os jogadores e o treinador são os melhores, tiveram razão desde o começo e fizeram tudo certo. Quando perde, são burros, mercenários, sem raça e incompetentes. Nós torcedores brasileiros somos passionais e sempre mudamos de opinião conforme o desempenho de nossos times de coração. Infelizmente, isto faz parte de nossa cultura.

No esporte só há um vencedor. Na Copa do Mundo há apenas uma taça a ser disputada entre 32 seleções. Perder e ser eliminado do torneio, portanto, era algo que poderia acontecer a qualquer um dos times, por mais preparados que estivessem.

Como encaramos o título como "obrigação" e não como "objetivo", não aceitamos algo menos do que a vitória. E o pior: escancaramos todas as nossas frustrações diante de um resultado negativo. Colocamos culpa no governo, nos órgãos públicos, na polícia, na ex-mulher ou seja lá quem for. A "caça às bruxas" sempre encontra os mais variados culpados, mas, estranhamente, a derrota raramente é tida como mérito dos rivais.

Em um momento como este, deveríamos seguir o que os articulistas estão escrevendo: "foi apenas um jogo". Se o Brasil vencesse, por acaso, isto realmente mudaria o curso das eleições, como um monte de gente andou alardeando por aí? Nosso PIB iria melhorar? A violência iria diminuir? Os níveis de analfabetismo e pobreza cairiam? Duvido muito.

Mas, afinal, por que a Seleção caiu diante da Alemanha? Uma sacolada por 7x1 mostra que, realmente, havia problemas, de fato, no selecionado brasileiro.


- O Brasil dependia muito mais de raça do que técnica. Quando o time sofreu o primeiro gol logo aos 10 minutos, isto abalou o psicológico da equipe e a raça se foi. Já havia indícios de instabilidade emocional na Seleção durante a partida contra o Chile, mas aparentemente isto foi pouco trabalhado.

- O talento individual era muito mais importante do que o coletivo. Dependíamos muito de Neymar. Quando ele e Thiago Silva desfalcaram o Brasil contra a Alemanha, isto atingiu o time, que ficou sem seu principal jogador e sem seu líder.

- O Brasil utilizava o meio-de-campo muito mais para marcar do que criar jogadas. Era necessário que um zagueiro desse chutões para que os atacantes recebessem a bola. Neymar, por acaso, era um dos poucos que tinha competência para dominar uma bola lançada nessas condições.

- Muitos dos atletas convocados nem de longe eram os melhores. Muitos deles já estavam em má fase em seus respectivos clubes.

- O time era pouco organizado taticamente e apresentava pouco jogo coletivo.

- Nos apoiamos em demasia sobre o título conquistado na Copa das Confederações e esquecemo-nos de que em uma copa do mundo deve-se adotar outro tipo de atitude. Isto, aliás, já deveríamos ter aprendido nos dois últimos mundiais.

- Como já escrevi, havia um clima muito grande de cobrança. Encarávamos o título como "obrigação" e não como "objetivo". Muitos veículos de imprensa contribuíram muito com isto ao colocar nossa Seleção como "perfeita" e garantir que "a taça já era nossa". Com a derrota para a Alemanha, a máscara caiu e vimos que o time foi superestimado.


A eliminação para a Alemanha, contudo, não deveria invalidar os méritos da nossa Seleção, apesar de seus defeitos. Nosso time cometeu erros, mas:


- O Brasil ficou entre os quatro melhores times do mundial (argumento que foi defendido por muitos articulistas). Ficamos na frente de Itália, Espanha, Chile, Colômbia, França, Croácia e Bélgica, todas excelentes equipes em minha opinião, mas que acabaram deixando o mundial mais cedo.

- Nossa Seleção tinha muitas limitações, mas o Brasil chegou muito longe a despeito disso. Não faltou, portanto, raça e vontade de vencer. As lágrimas de David Luiz após a dramática eliminação deixaram isto muito claro.

- Ainda há o terceiro lugar. Os brasileiros não costumam dar muito valor ao bronze. Mas, que tal voltarmos a 2006 e nos lembrarmos da própria Alemanha dos, então, jovens Schweisteiger, Klose, Lahm e Podolski? Eles foram eliminados em casa pela Itália nas semifinais, disputaram o terceiro lugar contra Portugal e venceram com muita dignidade. E foram ovacionados como heróis a despeito de não terem alcançado seu objetivo. Não é uma questão de se contentar com pouco. É questão de reconhecer que o time fez uma boa campanha, se esforçou em campo e ainda não terminou a competição de mãos vazias.


Força, Brasil! Vamos lutar pelo terceiro lugar! Não foi por falta de raça ou vontade que a Seleção caiu! Vocês foram muito longe! O mundial ainda não acabou!

Boa sorte, de verdade!

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