quarta-feira, 23 de julho de 2014

Risco Europa

Imagem extraída do Facebook oficial do Barcelona- https://www.facebook.com/fcbarcelona


Há algum tempo, escrevi a respeito da dependência das seleções sul-americanas do mercado europeu. Praticamente, todas as seleções da América do Sul são formadas por atletas que jogam no futebol europeu.

É sempre muito cômodo para os treinadores de seleções convocar jogadores que atuam no futebol da Europa, afinal esses atletas treinam e praticam fundamentos nos clubes de lá, eles valorizam os times em todos os sentidos e também impõem respeito em campo. Quem não tem medo de enfrentar um Messi ou um Suárez?

Em meu texto publicado em outubro de 2013, contudo, pontuei que a crise econômica da Europa tornou-se um entrave para que os jogadores sul-americanos ingressassem no mercado europeu. Quem não se lembra dos anos 90 quando milhares de jogadores brasileiros eram negociados com o Velho Continente e rapidamente faziam fama e fortuna por lá?

Hoje, contudo, os tempos mudaram. Os clubes medianos já não podem mais pagar o que os cartolas daqui pedem pelos seus jogadores enquanto os grandes clubes só aceitam atletas de qualidade comprovada. O Barcelona, por exemplo, só aceitou contratar Neymar porque ele é, de fato, diferenciado.

Outros problemas, contudo, podem dificultar ainda mais o ingresso de jogadores de fora da Europa no Velho Continente. Muitos países europeus, em decorrência da própria crise econômica, estão fechando suas portas a estrangeiros e partidos de extrema-direita estão ganhando a preferência dos eleitores locais. A FIFA e a UEFA vêm apresentando esforços para combater o preconceito e a xenofobia no futebol, mas dificilmente as políticas que limitam ou impedem o acesso de estrangeiros deixariam de respingar no esporte.

O sucesso da Alemanha e Espanha nos últimos mundiais também pode se tornar um entrave indireto aos jogadores sul-americanos. Um dos motivos para os referidos países faturarem os dois últimos mundiais foi o forte investimento na formação de atletas. O ex-treinador da Itália, Cesare Prandelli, pontuou que seu país não estava investindo nas categorias de base o que teria dificultado que o comandante montasse um time competitivo. Se o discurso de Prandelli for adotado por mais seleções, será mais difícil exportarmos jogadores para as nações europeias, que optarão por fortalecer o futebol de seus países.

Por fim, cada vez mais jogadores sul-americanos estão optando por defenderem seleções europeias. Deco, Cacau, Paulo Rink, Pepe, Diego Costa, Thiago Motta, Sammir, entre outros, são alguns dos brasileiros que se naturalizaram por países europeus e defendem ou defenderam outras seleções. Se os países sul-americanos pensavam em exportar jogadores com o objetivo de formar uma seleção com atletas que atuam na Europa, agora correm o risco de perdê-los para as outras delegações.

Como os países sul-americanos poderiam contornar esses possíveis problemas? Fortalecendo seus campeonatos nacionais, investindo forte nas categorias de base e melhorando a qualidade técnica dos jogos. Isto diminuiria a dependência do mercado europeu para a formação de seleções competitivas em caso de uma eventual crise no Velho Continente.

Obviamente, a adoção de tais medidas requer um planejamento minucioso e objetivos traçados a longo prazo. No entanto, muitos na América do Sul, principalmente no Brasil, pensam apenas em soluções e lucros imediatos.

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