quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Ode ao Futebol Raça

Imagem extraída do Facebook oficial do Arsenal- https://www.facebook.com/Arsenal/



Uma coisa que me irrita em muitos locutores e comentaristas esportivos é quando eles ficam exaltando a "raça" do time.

Obviamente, nenhuma equipe vence se não tiver vontade. Mas os atletas levam ao pé da letra até demais essa história de "entrega", "pegada" e "raça" que acabam exagerando nos lances e cometem faltas brutais. Isso sem falar naqueles atletas que o fazem por pura falta de caráter e esportividade.

Nosso futebol vem se tornando o paraíso dos caneleiros desde os anos 90, quando nossa escola abriu mão da técnica e da beleza para copiar os modelos da Alemanha e Itália, que na época eram equipes muito pesadas e estritamente defensivas. Tudo após os fracassos dos anos 80, quando nossa última geração de craques fracassou nas copas de 82 e 86. Poderíamos ao menos ter copiado a Argentina, que tinha o genial baixinho Maradona. O "professores", da mesma forma, não ensinam mais nada de fundamentos, enchem suas equipes de volantes e parecem incentivar seus times a cometerem faltas atrás de faltas.

Os frutos dessas mudanças aparecem no futebol de hoje, com esses jogadores com mais força e raça sendo exaltados como ídolos, enquanto os craques vão perdendo espaço. Os treinadores que nunca chutaram uma bola na vida, da mesma forma, sobrevivem armando suas equipes para empatar, enquanto os grandes ex-jogadores, que podem ensinar algo de útil aos nossos garotos, nunca recebem uma chance nos grandes clubes e na Seleção, salvo pouquíssimas exceções.

O volante brasileiro Felipe Melo (à esquerda na foto acima) tem lá seus lampejos, mas é um atleta exaltado muito mais pela raça do que pelo talento. Ontem, por acaso, o meio-campista do Galatasaray desferiu um carrinho desleal no atacante Alexis Sánchez, na derrota por 4x1 para o Arsenal. E ele levou apenas um amarelo pela infração. Saiu no lucro.

Felipe, para quem não se lembra, foi considerado culpado pela eliminação do Brasil para a Holanda na Copa de 2010 ao ser expulso após pisar no winger Arjen Robben, que havia acabado de voltar de lesão. Paulo César Caju, aliás, já havia previsto que o temperamento explosivo do volante poderia prejudicar a Seleção (veja no terceiro parágrafo do link).

Jogadores como Felipe Melo, apesar de seus deslizes, não são os reais culpados pelo futebol brasileiro e por nossos atletas estarem assim. Foi uma soma de fatores, desde o azar de nossa Seleção nos anos 80 até a incompetência dos dirigentes, que optaram por abraçar o modelo de futebol praticado por alemães e italianos daquela época ao invés de preservarem a real essência de nosso esporte, com jogo bonito e ofensivo. Atletas como Felipe, portanto, são fruto da derrota do futebol-arte para o futebol-raça.

Se isto serve de consolo, os alemães, nossos algozes deste ano, mudaram da água para o vinho em tempos recentes. Abandonaram o futebol pesado e estritamente defensivo para se consagrarem com um estilo leve, coletivo e ofensivo.

Talvez, ainda haja esperança.

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