domingo, 14 de abril de 2013

O Legado do Mestre

Eu sempre critico os "professores" da atualidade por contribuírem muito pouco com a qualidade do futebol: muitas faltas, excesso de preocupação com a defesa, muita burocracia, poucas chances criadas, valorização do físico em detrimento à técnica e dependência da bola parada.

Havia um técnico, no entanto, que era o contrário disso tudo, obcecado pelo futebol bonito e ofensivo. Falo do grande Telê Santana.

Nascido em Itabirito, Minas Gerais, Telê se destacou como jogador pelo Fluminense. Como treinador, ele ganhou projeção ao levar o Atlético Mineiro ao seu primeiro (e único) Campeonato Brasileiro em 1971.

Telê era um treinador perfeccionista, não queria que seus times apenas vencessem. Ele queria que suas equipes jogassem um futebol bonito, com dribles, trocas de passes e sem faltas. Ele era fã declarado da Seleção Holandesa de 1974 e exaltava a eficiência e ofensividade da Oranje.

O mineiro, merecidamente, foi convidado para dirigir a Seleção Brasileira para a Copa de 1982. Não ganhou, mas deixou um grande legado de jogo coletivo e ofensivo na memória dos amantes do futebol. Zico, Sócrates, Serginho, Oscar, Júnior, Falcão, entre outros desfilaram em campo mostrando o futebol mais bonito de nossa seleção desde a Era Pelé. Há vídeos disponíveis na internet, para os curiosos.

Telê só veio encontrar sua "redenção" pelo São Paulo, já nos anos 90. Em 1992, o Tricolor encontrou justamente com o Barcelona de Laudrup, Stoichkov e Guardiola. E, por ironia do destino, o treinador do Barça era justamente Johan Cruyff, um dos jogadores daquela Holanda de 74 que o Mestre Telê tanto admirava. E o holandês compartilhava com o mineiro a mesma obsessão pelo futebol coletivo e bem jogado. Na época torci para o São Paulo, mas hoje, revendo os vídeos do jogo, qualquer que fosse o resultado seria justo para dois treinadores com filosofias tão parecidas.

É sempre triste pensar que as ideias do mestre ficaram apenas no passado. Nos dias de hoje, com pouquíssimas exceções, não há atletas nem treinadores preocupados em trocar passes, jogar limpo, driblar, criar oportunidades ou atuar para o grupo. Tudo o que vemos são mais de cem passes errados por jogo, erros de posicionamento, jogadores recuados "respeitando" o adversário e truculência excessiva. Nós praticamente cuspimos no prato em que comemos.

Telê era um homem único e ele faz falta até hoje para o futebol brasileiro.

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