quarta-feira, 27 de março de 2013

O Futebol do Leste Europeu Vive

Nos tempos da Guerra Fria -disputa ideológica entre capitalistas e socialistas-, o esporte tinha grande importância como arma política e cultural. Era a grande chance de um dos lados humilhar ou outro sem precisar usar armas. Os socialistas sabiam disso e faziam grandes investimentos no esporte. É só ver quantas medalhas olímpicas União Soviética, Cuba e China conquistaram ao longo dos anos. Com o fim da União Soviética, o esporte deixou de ser uma arma política, mas as agora ex-nações socialistas continuaram investindo no esporte. China, Cuba, Rússia e Ucrânia continuam sendo grandes bichos-papões de ouros olímpicos.

O futebol também mereceu investimentos dos Estados socialistas. Os países do Leste Europeu (praticamente, todos eram socialistas) nunca conquistaram uma Copa do Mundo, mas já chegaram perto, com a Checoslováquia (vice-campeã em 62) e a Polônia (terceiro lugar em 74 e 82). Na Eurocopa, a situação foi melhor, com a União Soviética faturando o título de 1960 e a Checoslováquia levando o caneco em 76.

Com o fim da Guerra Fria, muitas daquelas nações do Leste Europeu se fragmentaram devido a perda de força do regime socialista na União Soviética e o aumento de movimentos nacionalistas, que clamavam por independência de seus Estados. Iugoslávia, Checoslováquia e a própria União Soviética se desmembraram em vários países independentes. Era uma loucura traçar mapas daquela região nos anos 90, já que surgia um país novo a cada mês!

Por causa da instabilidade política, o futebol desses países foi afetado. Algumas seleções chegaram a ser impedidas de participar de torneios da FIFA. Ainda assim, bons jogadores oriundos daquela região brilharam naquela época, como os croatas Davor Suker e Slaven Bilic. Aliás, a Croácia foi a melhor ex-nação socialista em copas do mundo até o momento. A geração de Suker, Bilic e Boban conquistaram um surpreendente terceiro lugar em 1998. Ainda em copas do mundo, vale mencionar o bom quarto lugar da Bulgária de Hristo Stoichkov obtido em 1994. Nas competições europeias, destaque para o vice-campeonato da República Checa em 1996.

Hoje, as ex-nações socialistas vêm mostrando futebol de qualidade. Jogadores daquela região vêm se destacando nos grandes clubes e na Champions League. Há alguns anos atrás, estavam em evidência os nomes de Shevchenko, Jankulovski e Nedved, além de Milan Baros, Rosicky, Mutu, Arshavin e Pavlyuchenko, que ainda continuam em atividade. Também aparecem jovens promissores como Mandzukic, Subotic, Piszczek, Dzeko entre outros.

Mais do que isso, as seleções do Leste Europeu estão fazendo boas campanhas nas eliminatórias européias para a Copa do Mundo de 2014. A própria Croácia, Bulgária, Hungria, Romênia, Albânia, Rússia, Bósnia-Herzegovina e Montenegro estão muito bem colocadas em seus grupos.

- "Os grupos são fáceis!" -Diz algum descrente. Então, vá até o grupo de Montenegro e observe que o time de Mirko Vucnic deixou a Inglaterra na vice-liderança. E a Bósnia-Herzegovina de Edin Dzeko deixou a Grécia, que já foi campeã européia, comendo poeira na tabela.

Além do desempenho dos times, foi satisfatório ver que alguns times vêm se preocupando com a qualidade e com a renovação de seu futebol para não ficar dependendo de uma geração vitoriosa para sempre. A Rússia é um bom exemplo. Arshavin e Pavlyuchenko nem entraram em campo contra o Brasil na segunda-feira e, mesmo assim, os russos botaram a Canarinho na roda, com muitas trocas de passes. E não é que o retranqueiro do Fabio Capello botou o time pra jogar coletivamente? Fiquei muito satisfeito com o que vi.

Que os times do Leste Europeu continuem nos presenteando com jogadores e futebol de qualidade. Quem sabe não pinte alguma surpresa vinda de lá em 2014?

Nenhum comentário:

Postar um comentário