quinta-feira, 2 de maio de 2013

Quantidade X Qualidade

A produção científica no Brasil vai muito bem, obrigado. Centenas de artigos são publicados por ano. Mas se cruzarmos estes dados com as revistas científicas onde esses artigos são publicados e também com a quantidade de Prêmios Nobel que nossos cientistas ganharam, concluímos que o governo de nosso país está muito mais preocupado com a produtividade do que com a qualidade de sua produção.

Com o futebol, tem sido a mesma coisa: o brasileiro se vangloria com os cinco títulos conquistados em Copas do Mundo, mas nunca questiona se o futebol apresentado pelas seleções campeãs apresentou jogo coletivo, fair play e futebol de qualidade.

Os títulos de 58, 62 e 70 eu nem preciso contestar. Foi a "Era de Ouro" de nossa Seleção quando apresentamos o mais belo futebol jogado, com dribles, passes e muitos gols. Foi a era de grandes craques, como Garrincha, Pelé, Zagallo, Pepe, Tostão, Rivelino, Didi e outros. O título de 94, porém, foi um pouco mais pragmático, com muitos volantes em campo. Se não fosse o Romário, nossa Seleção tetracampeã teria sido um marasmo total. E o título de 2002, do qual o Felipão tanto se vangloria? Só o Ronaldo e o Rivaldo se salvaram em um mundo de volantes e zagueiros.

E o que dizer de nossos clubes? O meu Tricolor viveu uma grande era de títulos entre 2005 e 2008 graças a uma defesa muito forte e uma dependência extrema da bola parada. Dos jogadores daquela geração, os melhorzinhos eram Mineiro, Rogério, Hernanes, Miranda e um pouco o Jorge Wagner. Não dá para considerar Aloísio, Souza, Josué e Danilo como craques. Sou grato a todos eles pelos títulos conquistados, mas não os convocaria para minha Seleção. O técnico Muricy Ramalho até admitia o futebol feio, quando declarou:

- "Quem quer espetáculo que vá ao circo".

O Internacional do Abelão e do Celso Roth também se valia de um futebol bem feio, com muitas faltas cometidas e muita retranca. Ainda bem que havia atletas que sabem jogar bola como D'Alessandro, Giuliano, Sóbis e Taison, todos capazes de fazer a diferença em campo. O Corinthians da geração de Mano Menezes e Tite é outro time que se vangloria de tomar poucos gols. Mas sempre toma sufoco porque marca um gol e fica segurando o resultado. O Timão quase sempre vence com a ajuda de placares magros e após tomar muita pressão do adversário.

Alguns dos elencos do futebol brasileiro são tão ruins que jogadores medianos acabam se destacando, assim como no famoso ditado "em terra de cego, quem tem um olho é rei". Muitas vezes até fico em dúvida se os atletas que se destacam nos em nossas equipes são bons mesmos ou se eles são apenas alguns lampejos que surgem em meio aos brucutus. E ainda afirmam que esses times se destacam pelo "jogo coletivo" porque tinham poucos craques em seus elencos. Acho que nem preciso dizer que esse termo é usado de forma equivocada.

A grande verdade é que o brasileiro desistiu de jogar bola. Sucumbiu às "tendências" do futebol inglês e do italiano em se preocupar mais com a defesa do que com o ataque. E nós cuspimos no prato em que comemos quando jogadores como Neymar e Kerlon são agredidos porque "desrespeitaram o time adversário" quando na verdade estavam simplesmente realizando um drible, uma das coisas mais belas do futebol e algo cada vez mais raro nos dias de hoje.

O jejum de títulos entre 1970 e 1994 sem dúvida alterou nossa mentalidade. Esquecemo-nos do estilo de futebol que nos projetou e miramo-nos apenas no resultado final, não importando os métodos empregados. E no nosso futebol tornou-se igual à nossa ciência: muita quantidade e pouca qualidade.

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