segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Raciocinar É Preciso

Imagem extraída do Facebook oficial do Borussia Dortmund- http://www.facebook.com/BVBorussiaDortmund09

Trabalhei por três semestres como assistente de professor universitário (e não como professor-assistente -são duas coisas bem diferentes). Durante esse período, ajudei a elaborar exercícios em sala, aulas práticas, atividades extra-classe e provas.

Essa experiência fez com que eu desenvolvesse uma filosofia clara de ensino: para mim, o mais importante no aprendizado não é memorizar todo o conteúdo de aulas ou livros, e sim utilizar esse conteúdo para gerar novos conhecimentos. Para isso, eu procurava elaborar questões que exigissem raciocínio do aluno. Não as considerava difíceis, mas eu procurava escrever perguntas desafiadoras que exigissem que o aprendiz se desprendesse dos livros e aprendesse a pensar fora do lugar comum.

Fazia isso porque acredito que um farmacêutico, em sua área de atuação, pode se deparar com situações inexplicáveis. Ele pode, por exemplo, se deparar com pacientes que não respondem a um certo tratamento e ter de buscar explicações ou alternativas para esse tipo de situação. E esse tipo de resposta dificilmente se encontra em livros.

Penso também que esse tipo de filosofia é perfeitamente aplicável no futebol, afinal o treinador e o atleta também precisam estar prontos para se desprenderem de seu modus operandi quando possível e improvisar quando necessário. O Barcelona e o Borussia Dortmund, por exemplo, atacam trocando passes. Mas o que acontece quando um adversário encontra um meio de deter o toque de bola? Já expliquei em outros posts que toda estratégia quando utilizada repetidamente torna-se previsível.

Milan e PSG conseguiram impedir o Barça de tocar a bola utilizando uma estratégia formulada por Roberto Di Matteo e seu Chelsea em 2012. Mas o então treinador Jordi Roura achou a resposta para vencer o jogo: adiantou um zagueiro e os laterais mudando o esquema de 4-3-3 para 3-1-3-3. A marcação adversária ficou sobrecarregada e os catalães venceram.

O Málaga também havia travado o Borussia Dortmund durante uma partida da Champions League e o empate classificaria o time da Andaluzia. Mas Jürgen Klopp adotou uma "tática suicida" e liberou todos os volantes, laterais e o zagueiro Felipe Santana para subirem à área adversária. O BVB derrotou os espanhóis e se classificou às semifinais.

Os atletas daqui não costumam chamar os treinadores de "professores"? Pois bem, acredito que como tal, os "professores" deveriam ensinar algo aos atletas. Transmitir os fundamentos básicos do futebol, ensinar aos atletas como agir em grupo e, principalmente, incentivar o jogador a usar o raciocínio para lidar com situações inesperadas, aquelas em que o adversário, de alguma forma, consegue anular a estratégia do time. Ensinar os atletas como se desprender daquela estratégia que o time treinou a esmo e surpreender o rival. Roura e Klopp venceram suas partidas porque se desprenderam de suas estratégias padrão e adotaram táticas que os adversários não esperavam.

Já disse Sun Tzu em A Arte da Guerra que a estratégia se baseia no engano e, portanto, é muito importante tornar-se imprevisível para vencer. Ter muitos recursos à disposição é fundamental para surpreender o adversário, e é essencial analisar cautelosamente o rival mudando a estrategia conforme a necessidade.

A universidade ensina e gera novos conhecimentos a partir dos já existentes. Penso que um treinador pode fazer o mesmo ao invés de meramente comandar atletas como robôs. Basta ter competência e paciência.

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