Nós brasileiros temos memória curta e nos esquecemos de quase tudo que aconteceu há anos atrás. Mas é impressionante a quantidade de torcedores pedindo a cabeça de jogadores e treinadores ao menor sinal de falha, mesmo que tenham conquistado campeonatos nacionais recentemente. As pessoas sequer ponderam que devem um título àquele jogador ou treinador. Mais uma prova que nossos campeonatos não valem tanto assim para nós.
Semana passada, o Fluminense não conseguiu segurar o Olimpia no Paraguai e acabou eliminado da Libertadores. Vários torcedores protestaram pedindo a demissão do técnico Abel Braga. Seria normal se não fosse por um detalhe: Abelão foi o treinador que conquistou o Campeonato Brasileiro com o Flu em 2012. Aí fica a minha dúvida: o torcedor esqueceu-se da recente conquista do Tricolor das Laranjeiras, ou admite que o Brasileirão é um campeonato de baixo nível e que, portanto, não agrega nenhum valor ao clube? Muricy Ramalho passou por situação semelhante no Nense entre 2010 (quando ganhou o Brasileirão) e 2011 (quando foi demitido após campanha ruim na fase de grupos da Libertadores).
Outro exemplo foi com Júlio César, goleiro do Corinthians. Já contei a situação dele em outro post, mas vale resgatar: o arqueiro teve participação fundamental na conquista do pentacampeonato brasileiro com o Timão em 2011. O goleiro, no entanto, foi cobrado por alguns torcedores durante suas férias, exigindo que o título da Libertadores fosse conquistado. E, no fatídico jogo contra a Ponte Preta, em 2012, o atleta foi execrado por torcedores, imprensa e dirigentes a ponto de ficar encostado e virar motivo de chacota pelos próprios corinthianos. Trocando em miúdos: o Campeonato Brasileiro não teve valor nenhum, certo?
Felipão ganhou a Copa do Brasil com o Palmeiras em 2012 e há torcedores que não querem vê-lo no Palestra Itália nem pintado de ouro. Mesmo acabando com o jejum de títulos do Verdão, o treinador gaúcho caiu em desgraça com o torcedor palmeirense e foi responsabilizado pelo rebaixamento do time junto com os dirigentes daquela gestão.
E o que dizer do ex-volante Andrade, que trouxe o hexacampeonato brasileiro para o Flamengo em 2009 e acabou sendo demitido sem dó no começo do ano seguinte por causa do desempenho fraco na fase de grupo na Libertadores e pela perda do título do Campeonato Carioca?
Ingratidão? Corneteiros? Memória curta? Sim, eu aceito cada um dos argumentos, mas é impressionante que os títulos nacionais sejam valorizados apenas no momento que o time os conquistam. Depois disso, essas conquistas caem no esquecimento ao menor sinal de crise.
Isso significa que os campeonatos nacionais não valem nada? Provavelmente, ainda mais se levarmos em conta o futebol burocrático e violento que praticamos, treinadores retranqueiros, calendários rígidos e pouco flexíveis, arbitragem ruim e falta de infra-estrutura adequada. Não dá gosto acompanhar um campeonato desses exceto por um ou outro time.
Pode ter a certeza de que se os campeonatos nacionais valessem tanto assim, os torcedores pensariam duas vezes antes de pedirem a demissão de um treinador ou de um jogador que obteve uma conquista recente.
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