domingo, 2 de junho de 2013

Um Golpe na Memória

Eu vi três grandes craques jogar em toda a minha vida: Romário, Messi e Maradona -este último já em fim de carreira. Talvez, eu possa adicionar o grande Ronaldinho Gaúcho à lista. Não vi a fantástica seleção de Pelé, Garrincha e Didi em 58 e 62. Não assisti ao timaço de Tostão, Rivelino e Gérson em 70. Nunca vi o Mestre Cruyff jogar em 74. E jamais pude assistir à seleção de 82, com Zico, Falcão e Dr. Sócrates. Às vezes tenho inveja de quem tem 60 anos ou mais porque não posso descrever com riqueza de detalhes como eram cada uma das seleções e os jogadores que citei.

Frequentemente vejo atletas daquelas gerações fazerem críticas severas contra o futebol atual. O próprio Mestre Cruyff descreveu durante a Copa de 2010 como o futebol do Brasil e da Holanda perdeu sua essência e tornou-se um festival de burocracia. Paulo Cézar Caju, em sua coluna no extinto Jornal da Tarde, seguia a mesma linha de raciocínio quando saia em defesa do futebol-arte e criticava os brucutus em campo.Walter Casagrande Jr. não poupa críticas nem ao seu ex-time, o Corinthians, pela falta de jogo coletivo e de toque de bola.

Um dos argumentos levantados por Caju foi o de que as seleções de 58, 62 e 70 são pouco lembradas, à exceção do Atleta do Século, Pelé. Os três times mencionados tornaram-se referência ao futebol mundial por unirem ofensividade, dribles bonitos, passes precisos e eficiência. Por outro lado, as seleções de 94 e de 2002 são sempre lembradas pelos dirigentes da CBF. Prova disso: Parreira e Felipão, os treinadores de 94 e 2002 respectivamente, estão de volta à Seleção a despeito de terem feito trabalhos apenas modestos recentemente -o carioca dirigiu a África do Sul em 2010 e o gaúcho esteve à frente do Palmeiras no ano passado. As Seleções dirigidas pelos dois não jogavam nenhum primor de futebol e mais defendiam do que atacavam.

A grande verdade é o que todos os ex-jogadores mencionados disseram: o Brasil renunciou ao futebol glorioso do passado e passou a se preocupar apenas com a quantidade de títulos. Prova disso: nossos maiores "craques" são os zagueiros e os volantes. E os meio-campistas de passes precisos e os atacantes dribladores? Todos eles são brutalmente agredidos pelos brucutus sob o pretexto que "desrespeitam o time adversário" quando driblam. E quebrar a perna de um adversário dando carrinho não é desrespeito? Faça-me o favor.

A truculência do futebol brasileiro chega a certo ponto que há quem deseje apagar a existência do futebol bem jogado. Jogar ofensivamente, trocar passes e driblar. Tudo isso parece estar sendo esquecido por nós brasileiros. Veja quem são os "professores" que estão fazendo sucesso: Tite, Muricy, Abel, Mano Menezes, todos mais preocupados com a defesa do que com o ataque. Quem são os maiores ídolos dos times? Paulinho, volante que mais corre do que joga bola. Luis Fabiano, centroavante razoável que vive arrumando encrenca. Henrique, zagueiro apenas esforçado. As única exceções acabam sendo Neymar (que acabou de ir embora para o Barcelona), Ronaldinho Gaúcho e o Bernard.

Se a tendência natural do futebol é priorizar a parte física e os resultados, que assim seja. Mas renegar o passado glorioso de nosso esporte e intimidar os artistas de bola é um crime contra a nossa própria memória e contra todos os grandes craques do nosso futebol.

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