quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O Princípio da Não-Forma

Imagem extraída do Facebook oficial do Bayern München-
http://www.facebook.com/FCBayern

Estava relendo um dos meus livros preferidos, O Livro dos Cinco Anéis, escrito pelo lendário Miyamoto Musashi. Honestamente, o único capítulo que eu aproveitei deste livro em minha vida pessoal foi o último, que tem apenas duas páginas. O restante da obra, no entanto, é perfeitamente aplicável em um universo competitivo, como é o caso do futebol.

Uma das teorias defendidas por Musashi é o "Princípio da Não-Forma", em que o guerreiro não deve se ater em movimentos pré-determinados e adaptar-se conforme o ambiente ou as ações do adversário.

Tostão, craque com bola e com as palavras, utilizou argumentos muito semelhantes ao Princípio da Não-Forma de Musashi para explicar a mutabilidade e a flexibilidade dos esquemas táticos: o ex-jogador elogiou o Cruzeiro de Marcelo Oliveira onde os atletas têm liberdade para atuar em vários tipos de função na execução de jogadas, como a possibilidade de meias-armadores atuarem como centroavantes conforme a necessidade. O craque descreveu a Raposa como um "caos organizado".

Em outro texto, Tostão escreveu que a execução das jogadas independe da formação tática. O Barcelona de Guardiola atuava no 4-3-3, o Athletic Bilbao e o Chile de Marcelo Bielsa atuavam no 3-3-1-3 ou 3-3-3-1, e o Arsenal de Wenger ou o Borussia Dortmund de Klopp são escalados no 4-2-3-1. A execução das jogadas das equipes mencionadas, no entanto, são (ou eram) executadas baseando-se no toque de bola.

Um bom exemplo do Princípio da Não-Forma no futebol é, sem dúvida, é o Totaal Voetbal do saudoso Rinus Michels. Na Holanda de 1974, os atletas não tinham funções pré-determinadas e trocavam de posições o tempo todo. Johan Cruyff, por exemplo, podia atuar como meia-armador ou como atacante conforme a necessidade. A movimentação e a pressão intensa da Holanda de Michels fizeram aquela equipe ser conhecida como "Laranja Mecânica" ou "Carrossel Holandês".

O Bayern München de Josep Guardiola atuou com uma escalação muito estranha à primeira vista, com o lateral Lahm escalado como volante, Müller atuando como "falso nove" e sem um centroavante de ofício. Os laterais e os volantes tiveram toda a liberdade para subir, articular e concluir jogadas. Todos os homens de frente voltaram para fechar os espaços quando o time bávaro estava sem a bola. A marcação e a pressão foram executadas com a mesma eficiência. O envolvente Tiki-Taka que Guardiola desenvolveu no Barcelona esteve presente, mas os atletas continuam levantando bolas como nos tempos do antecessor Jupp Heynckes. Enfim, tivemos um Bayern flexível com muitas possibilidades de jogadas e recursos para superar os diferentes tipos de adversário na temporada. Um verdadeiro "Carrossel Bávaro".

O Bayern München sob a batuta de Guardiola não tem uma proposta de jogo e sim várias em um único time. Uma equipe que segue os princípios registrados por Miyamoto Musashi.

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