quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Pragmatismo e Arte

Imagem extraída do Facebook oficial do São Paulo-
http://www.facebook.com/saopaulofc


Em 1974, a Holanda encantou o planeta com o seu mais belo futebol. O saudoso Rinus Michels armou uma equipe criativa, dinâmica, ofensiva e coletiva. Era um time tão forte que até mesmo o Brasil caiu ante a Laranja Mecânica. A Oranje, no entanto, não conseguiu vencer a Alemanha, dona da casa, e o seu futebol estritamente defensivo. É verdade que a Mannschaft contava com atletas que tratavam bem a bola, como o Kaiser Beckenbauer e Wolfgang Overath, mas a Alemanha era uma equipe pragmática que acabou por derrotar uma das obras-primas do futebol mundial.

Em 2012, o Barcelona tinha o mundo aos pés. Detentor do título da Champions League, Guardiola e seu Tiki-Taka encontraram um Chelsea em crise nas semifinais. A equipe dirigida pelo interino Roberto Di Matteo, no entanto, aplicou um dos mais duros golpes no futebol-arte ao derrotar o meu Barça com um futebol violento e recuado. Havia um ou outro bom jogador por lá, como o genial meia Juan Mata, mas a maior parte do time era mais músculo do que cérebro.

Ontem no Mineirão, o futebol-arte levou mais um duro golpe do "futebol eficiente": o treinador Muricy Ramalho, com muitos desfalques, armou um time fechadinho que manteve a escrita do São Paulo sobre o Cruzeiro. A Raposa vem apresentando o mais belo futebol da atualidade no Brasil, com toque de bola e jogo coletivo. Chega a ser uma heresia comparar o time celeste de Marcelo Oliveira à Holanda de Michels ou ao Barça de Guardiola, mas as circunstâncias permitem tal análise.

Admito, no entanto, que Muricy foi inteligente e deu um belo nó tático na Raposa ao armar um falso 4-4-2 com Rodrigo Caio alternando entre as funções de volante e terceiro zagueiro, e permitindo que os laterais e os demais meio-campistas avançassem e tomassem a bola do Cruzeiro no campo de ataque. Não foi muito diferente do que Felipão fez contra a Espanha na final da Copa das Confederações deste ano.

O Cruzeiro parecia ansioso em campo. O gol perdido de Willian, os contra-ataques ineficazes da Raposa (que esbarravam na marcação tricolor) e o gol contra de Éverton Ribeiro confirmam que o time celeste estava com algum problema. A torcida cruzeirense pouco se importou e continuava apoiando o time, uma vez que o time de azul tem gordura de sobra para garantir a liderança. 

Ao meu São Paulo, parabenizo os atletas e o técnico Muricy Ramalho pela vitória, mas ainda peço que o triunfo seja celebrado com reservas -a situação do Soberano ainda é delicada- e que o time jogue um futebol mais agradável no próximo ano. Gostei da ideia de adiantar a marcação, mas ainda é necessário criatividade e técnica para que o Tricolor não seja escravo dos chuveirinhos e da bola parada. Ainda sonho com meio-de-campo formado por Ganso, Jádson e Maicon abastecendo um trio de atacantes. O ex-santista, aliás, vem recuperando o seu bom futebol. Não sei o que o Muricy falou ao meio-campista, mas sua atuação tem sido digna de elogios.

Felizmente, não é o fim da linha para o futebol artístico do Cruzeiro. Foi apenas um tropeço que, provavelmente, não custará à Raposa o seu merecido título. Lamento, no entanto, que a Holanda de Michels e o Barcelona de Guardiola não tenham tido a mesma sorte de Marcelo Oliveira.

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