sábado, 12 de outubro de 2013

Um Chute na História

Imagem extraída do Facebook oficial de Pelé-
http://www.facebook.com/Pele

Às vezes, acho que não sentimos o menor interesse pela história de nosso próprio país. Nos grandes vestibulares do Brasil, são poucos os que aventuram em concorrer a uma vaga nos cursos das ciências humanas, como história, geografia, letras, filosofia ou sociologia. Os institutos de humanidades são vistos como antros de socialistas, maconheiros, grevistas e até terroristas. Ademais, há quem não considere as ciências humanas como ciência verdadeira.

Posso entender o baixo interesse por esse tipo de carreira: quem obtém um diploma nesse tipo de curso não pode optar por muitos tipos de profissão senão lecionar, com a exceção da geografia que apresenta um leque de atuação mais amplo. E a perspectiva de lucro para um professor, infelizmente, é baixa. Basta ver a quantidade de protestos que professores da rede pública de ensino fazem todos os anos em busca de um reconhecimento mais digno.

Outra prova do desinteresse do brasileiro pela história do próprio país é o fato de algumas obras de arte serem constantemente alvo de vandalismos, algumas de valor histórico e cultural inestimável. Na semana passada, o Monumento às Bandeiras de Vitor Brecheret foi alvo de pichadores. Posso compreender a revolta pelo fato de muitos dos bandeirantes terem cometidos verdadeiros massacres contra povos indígenas. No entanto, Vitor Brecheret foi um escultor que representou a escola do Modernismo, movimento de vanguarda artística que apresentava alinhamento com a esquerda. Muitos dos modernistas, inclusive, eram comunistas, como o grande escritor Graciliano Ramos. Tenho certeza que Brecheret esculpiu o monumento com o objetivo de criticar os atos bárbaros dos bandeirantes, e não de exaltá-los, como devem ter pensado os que atentaram contra a obra. Eu vi, ainda, notícias recentes de espertinhos que contrabandeiam fósseis descobertos no Brasil a estrangeiros.

No futebol, o desinteresse pela história fica evidente quando observo estátuas em homenagem a Zagallo, Jairzinho, Garrincha e Nílton Santos serem vandalizadas. Mais uma vez, eu compreendo a revolta das pessoas contra as falta de transparência nos gastos para as obras para a Copa do Mundo de 2014 e também com a situação de alguns clubes no Brasil. No entanto, é preciso ter a compreensão da importância dos referidos atletas para a história do futebol deste país.

Ao mesmo tempo, jogadores que colocaram a nossa Seleção no mapa do futebol mundial sempre são pouco lembrados, à exceção de Pelé e, talvez, Zagallo. A própria mídia e a CBF dispensam pouca atenção aos heróis do passado. Para se ter uma ideia, não consigo escalar de cabeça os times de 58 ou de 62. Só para comparar, na Alemanha, Breitner, Beckanbauer, Hoeness, Heynckes, Overath e outros sempre são exaltados pela conquista da Copa de 74, inclusive pelos mais jovens que não os viram atuar.

Observo também a grande quantidade de ídolos do passado que acabam queimados. Dunga e Falcão no Inter, Muricy no São Paulo, Adílson Batista no Corinthians, Abel no Flu, e Andrade e Zico no Flamengo foram grandes ídolos em seus respectivos times, mas torcedores e dirigentes não tiveram piedade na hora de dar um pé na bunda nos respectivos ex-atletas a despeito de toda a importância que tiveram na história dos clubes.

O brasileiro, em sua maioria, não se importa com a história do próprio país. Imagino, então, que tipo de importância dão à história do futebol...

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